segunda-feira, 12 de maio de 2008

Plutão, Capricórnio e a função paterna


Dizem os psicanalistas que a função paterna funciona como reguladora do desejo, organizadora da entrada do sujeito no mundo da linguagem, legisladora, limitadora, pacificadora. É preciso, segundo eles, que se sustente então a função fálica, o poder do pai. Com isso, eles querem dizer que o pai muito bonzinho, compreensivo e tolerante não consegue muitas vezes cumprir tal função, deixando seu filho carente de um registro, ou de uma marca com a qual possa referir-se como “sou filho de alguém” na qual se sustentaria.

Não é fácil exercer a dura função de pai, função simbólica que não remete exclusivamente à existência de um pai biológico. Simbólica porque é ela que vai estruturar todo nosso ordenamento psíquico. Como? Ocupando o pai o lugar daquele que frustra com habilidade, que nos depara com a impossibilidade de completude. E ao introjetarmos essa frustração primordial é que vamos em busca de realizações, por isso é o pai que regula o nosso desejo: ter ou não ter ambição, ter capacidade de luta ou incompetência, confiança ou falta de autoconfiança, força de vontade, determinação ou timidez, insegurança. Esse pai tem que segurar a barra, pôr limites quando a mãe quer facilitar tudo ao filho, trazer a Lei que vai regular o desejo, defrontando o filho com a impossibilidade de uma satisfação completa. Ele é o “terceiro” que vai romper a relação simbiótica de mãe-filho, estruturando-o como sujeito que deseja (e que, portanto, não se acomoda).

A função paterna é a que sustém a coerência de um mundo, garantindo com sua presença que o caos não prevalecerá. Proíbe e exclui, mas o faz para proteger e permitir que surjam outras possibilidades.

Lei, autoridade, Estado, pai...uma cadeia de significados equivalentes que se encontram no interior do simbolismo de Capricórnio.

Em 2008, Plutão entra em Capricórnio, após 13 anos passeando por Sagitário. Seus primeiros sinais já se fizeram ver quando a menina Isabela, de apenas 5 anos, foi jogada pela janela por seu pai. Indignação em todo o país e até mesmo no mundo. Um crime que abala profundamente a instituição família, que já vem sofrendo tantas transformações nas últimas décadas. Temos a impressão de que agora chegamos ao fundo do poço. Aquele que deveria proteger e cuidar é quem nos atira pela janela.

Quase de forma simultânea surge a noticia vindo da Áustria do pai que manteve a filha e três crianças nascidas do incesto presas em um porão durante 24 anos. Uma história de abuso sexual, de filhos gerados e criados em um cubículo sem nunca terem visto a luz do dia. Por que esta história aparece justo agora? Aqui vemos a energia plutoniana emergindo da escuridão, destapando os horrores escondidos no porão do nosso inconsciente coletivo. Mais uma vez é a figura paterna que se torna ameaçadora e ameaçada.

Em sua passagem por Capricórnio, Plutão testa o poder do pai, da lei, do limite. Destrói para construir. O que surgirá depois ainda é uma incógnita.