quinta-feira, 17 de abril de 2008

SINASTRIA - A astrologia nos relacionamentos

"Dai vossos corações, mas não os confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da VIDA pode conter vossos corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente;
Pois as colunas do templo
Erguem-se separadamente
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro."
Khalil Gibran


Uma das perguntas que mais atraem as pessoas que consultam um astrólogo é sobre que signo combina com o delas. Como se a questão se resumisse apenas a esse tipo de compatibilidade. Signos podem combinar com signos. Porém, quando se trata de pessoas o enfoque é diferente. Seres humanos são complexos, isso é bastante óbvio. O signo solar é apenas uma dimensão de nossa totalidade. E mesmo que busquemos alguém com um singo que combine com nosso signo solar, esse fato, em absoluto, poderá garantir que seja uma relação satisfatória. Em algum nível teremos afinidades e possivelmente desfrutaremos de uma certa harmonia, mas é impossível negar ou subtrair as outras facetas de nosso caráter (os outros componentes do nosso mapa).
Chama-se Sinastria a área de estudos que faz a comparação de dois mapas astrológicos. É uma técnica usada para determinar as afinidades entre dois indivíduos - em qualquer tipo de relação: homem/ mulher, pai/filho, sócios, etc - o grau de compatibilidade e também as áreas de aprendizado e adaptação. Em outras palavras, a sinastria vai pontuar aquelas dimensões da personalidade de cada um que se compatibilizam e são harmônicas, as diferentes perspectivas que possam ter, marcando pontos de um provável conflito ou discordância. É nesse ponto que entram questões como maturidade, capacidade de aceitação do outro, de envolvimento, e outros requisitos básicos para um relacionamento harmonioso que não dependem tanto da leitura dos mapas, mas do modo como cada um aprende a lidar com as energias e potencialidades que traz latente no seu tema natal.
Através da prática astrológica pude observar que muitos casais apresentavam um alto grau de compatibilidade na comparação de seus mapas individuais, mas que , apesar disso, enfrentavam sérios conflitos de relacionamento. Uma análise mais minuciosa do mapa de cada um mostrava conflitos de personalidade que necessitavam ser solucionados, em primeiro lugar.
Há, portanto, alguns requisitos prévios à interpretação que precisamos lever em consideração numa Sinastria. O primeiro requisito é o fator individual, ou seja , a capacidade de relacionamento da pessoa. O elemento-chave que nos faz entrever quais as potencialidades de relacionamento serão possíveis é encontrado na infância do indivíduo. Através dos diferentes tipos de vínculos com os elementos da família, a criança vai armazenando um potencial vincular com essas figuras que se tornam modelos internalizados de relacionamento. Esses modelos servirão de padrão para o futuro.
As relações com o mundo vão refletir a maneira como o encaramos. O contato estabelecido com ele é determinado pelo mapa individual. A compreensão desses padrões natais permitirá ao indivíduo entrar em contato consigo mesmo para discriminar e desvencilhar-se de seus condicionamentos. A auto-compreensão nos leva ao amadurecimento. A pessoa amadurecida pode efetuar escolhas baseadas em percepções exatas de si mesma e dos outros. Quanto menos conhecer de si mesma, mais partes do seu eu fragmentado são projetadas nos outros, e mais dependente a pessoa se torna desses receptáculos de suas projeções.
Externalizamos nossos conflitos intrapsíquicos em nossos relacionamentos, que são apontados pelas quadraturas e oposições do mapa astral. Cada um desses aspectos astrológicos marca uma característica da personalidade que põe à prova a habilidade de nos relacionar harmoniosamente com os demais.
Outro requisito básico para ser levado em conta na comparação de mapas está no conceito de vìnculos. Um vínculo pode ser definido como uma estrutura dinâmica que liga uma pessoa a outra. É um conceito extremamente importante dentro da Teoria Geral dos Sistemas. Segundo essa teoria, o não-relacionamento é impossível, somos criaturas inter-relacionais, portanto o eu só pode ser compreendido em sua relação com o outro.
Na comparação de dois mapas astrológicos, cria-se um novo campo energético que é dado pela interação dos campos de energias individuais. Chamamos a isso de "interaspectos" , ou seja, os aspectos recíprocos de cada mapa. Pela análise desses interaspectos, encontraremos diferentes tipos de vínculos.
Os problemas que enfrentamos em nossas vidas são decorrentes de uma perturbação do sistema de vínculos, do nosso sistema de comunicação. Se o indivíduo consegue sintonizar-se com a corrente energética do outro, se consegue adaptar-se e relacionar-se com alguém compatível, a probabilidade de que a relação seja funcional é extremamente alta. Mas se ambas as partes olham para a relação como um lugar onde se obtêm coisas ao invés de dá-las, o resultado pode ser desastroso, não importando quão compatíveis sejam seus mapas entre si.
As motivações que impulsionam as pessoas a se escolherem estão relacionadas a fatores inconscientes. Isto é, a escolha é feita geralmente a partir de uma complementariedade. Por isso, é interessante perguntar o que cada um viu no outro que o atraiu. Por que, dentre milhares de pessoas, você foi escolher exatamente aquela?
Uma pessoa cuja alta estima seja reduzida, nutre fortes ilusões e expectativas com relação ao que espera do outro. A interpretação astrológica dos relacionamentos deverá apontar não só as áreas de compatibilidade e harmonia, mas as diferenças que inexoravelmente existem. E são elas que desafiam nossa habilidade para respeitar e aceitar o outro, e contribuem de forma criativa para o processo de evolução a dois.
A partir desses requisitos prévios, pode-se dar início à pesquisa dos mapas astrológicos envolvidos, aplicando as diferentes técnicas disponíveis. A sinastria vai apontar tanto as afinidades quanto os desafios ou estímulos dentro de uma relação.
A função da sinastria astrológica é determinar o grau de compatibilidade de uma relação, mas a decisão final está nas mãos das pessoas envolvidas.
Betinha Paes
(Artigo publicado no Jornal Quíron, em 1994)