sexta-feira, 21 de março de 2008

A MANDALA ASTROLÓGICA: VISÃO HOLOGRÁFICA DA ALMA

“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque altiva vive.”
Fernando Pessoa

A Mandala é uma manifestação do psiquismo humano quando se procura o resgate e a unificação de partes dissociadas ou negadas de nossa Totalidade. Trata-se de um símbolo largamente utilizado tanto no Ocidente quanto no Oriente, para a prática da meditação. Carl G. Jung afirmava que, para que o inconsciente pudesse ser atingido e expresso, seria necessário contar com a magia dos símbolos. E a Astrologia é uma linguagem simbólica por excelência. Após desenhar mandalas de forma intuitiva, Jung ,aos poucos, foi percebendo-as como símbolos da totalidade, da integração e da realização
Dane Rudhyar, conhecido como “pai da astrologia moderna”, foi o primeiro a introduzir a interpretação holística do Mapa Astral. Designou o mapa como uma Mandala Astrológica, um modelo de tudo o que somos e do que podemos ser, tendo no centro a morada da divindade, e na periferia as diferentes manifestações da Unidade Infinita. Todas as mandalas, sejam astrológicas ou não, têm em comum o ponto central, amorfo, onde os opostos se reconciliam, onde as polaridades são anuladas. A Mandala Astrológica, portanto, não é apenas um diagrama das posições dos planetas, mas a representação global do Ser, simbolizando e expressando as energias do nosso espaço interior, independentes do tempo e do lugar. É uma ferramenta extraordinária, uma linguagem da consciência e da experiência interior e possui uma tremenda força curativa quando nos sintonizamos conscientemente com essa ordem cósmica.
O estudo paciente e honesto do Mapa Astral nos abriria as portas para uma consciência efetiva de nossa natureza interior, atualizando as nossas potencialidades inatas e descobrindo os impulsos, desejos, necessidades, emoções positivas ou negativas que negamos como próprias. Sem essa consciência estamos condenados a vivenciar, como vindos de fora, os aspectos obscuros de nossa psique, principalmente em nossos relacionamentos. E a medida que avançamos em nossa busca de interioridade, vamos transcendendo a fragmentação e a desordem oriundas de uma identificação excessiva com a forma. É dessa maneira que ocorre o processo de cura. O ser humano tende a ver-se a si mesmo como uma forma separada do resto do mundo, impedido de observar-se dentro de um contexto maior e de perceber os padrões cíclicos da energia. A consciência humana tende a polarizar-se, ou seja, parcializar a realidade. Não percebemos a totalidade do quadro, tendo que transitar ora na figura ora no fundo, ora na luz, ora na sombra. Para captar a totalidade, fazer a síntese correta, é preciso levar em conta esse mecanismo de exclusão de nossa percepção.
Em termos práticos, que podemos concluir sobre a importância dessa visão mandálica do Mapa Astral? Como dissemos, não se trata apenas de uma “foto do céu no horário de nascimento”, indicando a posição dos corpos celestes, mas de uma representação simbólica da Unidade do Ser, a imagem de um quebra-cabeças completo, um mapa de navegação de nosso Universo interior.
E como afirma Stephen Arroyo, o astrólogo seria “um canal de grande força curativa e mágica do cosmos”[1], indicando com isso que cabe ao astrólogo a delicada tarefa de traduzir a linguagem cósmica de tal maneira que estimule o indivíduo a sintonizar-se conscientemente com a ordem Universal. Porém, se vivemos numa cultura fragmentada, esquizofrênica e materialista, somos contaminados por essa visão de mundo, resultando numa deformação dessa grande força integradora e unificadora da Astrologia. Nossa concepção de espaço-tempo é linear e causal, o que nos dificulta ter acesso a outras dimensões e entender os ciclos da vida como um eterno retorno circular. O círculo representando a mandala astrológica simboliza um ciclo de evolução encerrado nela mesma, onde percebemos que nada é concluído na casa XII, porque onde ela termina começa o Ascendente.
A proposta de astrólogos como Rudhyar, Arroyo , Eugenio Carutti e outros é que devemos olhar o mapa astral como uma mandala e como tal, ela é um símbolo por si só, representando o Self ou a Totalidade do Ser. Todos os outros símbolos contidos nessa mandala indicariam apenas as diferentes partes desse Self, sendo que nenhum ponto pode ser isolado nem considerado como mais importante, nem mais fundamental. Como a consciência tende a identificar-se com os fragmentos isolados, nos reconhecemos em algum fragmento da totalidade do mapa, excluindo ou projetando partes importantes de nossa identidade. Projetar significa literalmente lançar, arremeter. E é o que faz a consciência com aqueles aspectos que, por alguma razão, não suportamos em nós mesmos e os lançamos aos outros, investindo-os com essas particularidades. Esse mecanismo é característico da mente humana polarizada, ainda identificada com a forma, que para ver, ouvir ou perceber algo tem que excluir uma parte. A maior dificuldade, talvez, para estudar astrologia resida nessa limitação do humano para sentir e compreender o todo, para sintetizar sem polarizar-se em um só aspecto. Há uma idéia fundamental, portanto, para entender o que significa a Mandala Astrológica: partindo do conceito de que tudo é energia, o mapa representaria um campo energético que emite vibrações constantemente. Ao nascer, o indivíduo vai reagir a essa vibração de forma particular, incorporando parte desta energia com a qual se identifica e rejeitando outras partes. Identifica-se com determinadas experiências, reconhecendo-se em umas e não suportando viver outras, formando assim, através da polarização, o conceito de ego, de uma existência auto-centrada. E assim, como nos explica o astrólogo argentino Eugênio Carutti, “vai-se tecendo uma estrutura psicológica que não coincide com a estrutura energética. Diríamos que a estrutura energética vai esculpindo a estrutura psicológica”[2]. Com esse conceito fica muito mais fácil entender porque pessoas com o mesmo mapa astral são tão diferentes. Um bom tema para discussão...
Assim como tudo no Universo a mandala astrológica é uma estrutura holográfica. Para entendermos essa afirmativa, temos primeiro que entender o que é um holograma. Trata-se de uma fotografia tridimensional feita com ajuda de raios laser. Ao fotografar um objeto dessa maneira, aparece a imagem tridimensional deste objeto. Porém, diferentemente das fotografias normais, se cortarmos em partes esse holograma, em cada parte ainda será encontrada a imagem do objeto inteiro. É o “todo em cada parte”, conceito que vem sendo chamado de paradigma holográfico e que está sendo utilizado como modelo para compreender outros níveis de realidade. Vários pesquisadores estão percebendo uma nova maneira de entender o Universo, em diferentes campos do saber. Um holograma ensina-nos que em um nível mais profundo de realidade todas as coisas do Universo estão intimamente interconectadas. Transpondo essa linguagem holográfica para a Astrologia, passamos a ver a mandala astrológica como uma matriz global, onde cada um dos seus elementos recria essa matriz, comunicando a profunda unidade que existe entre o exterior e o interior, entre o Céu e a Terra, entre o Homem e o Cosmos. Como um holograma, cada parte da mandala contém toda a informação possuída pelo todo. Em nossos mapas estão presentes todas os signos, planetas e aspectos em diferentes proporções. Cada parte está na totalidade e representa uma totalidade em si mesma. Se nos identificarmos com apenas uma parte, as outras partes fragmentadas de nossa consciência irão se manifestar ao longo de nossa vida como “destino”. Entendamos aqui destino como aquilo que desconhecemos de nós mesmos e que temos que vivenciar, porque é parte de nosso holos, de nossa totalidade.
Conhecendo nosso mapa em profundidade, estaremos fazendo um movimento em direção a uma perspectiva mais equilibrada e realista da vida. Quando o processo de auto-conhecimento não segue seu curso, a vida se encarrega de fazer isso por nós, mas se soubermos colaborar com esse processo, com certeza será bem menos traumático e consequentemente mais gratificante!











[1] Arroyo, Stephen. Cosmos- La conexión perdida, Buenos Aires, Kier, 1987.
[2] Carutti, Eugênio. Ascendentes en Astrologia. Buenos Aires, Editorial Casa XI, 1997.

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